Pirataria afeta serviço de TV paga da Telefônica

Talita Moreira

Às voltas com a proibição das vendas de seu serviço de acesso à banda larga, a Telefônica agora se depara com problemas em outra frente de atuação. A companhia tem sido alvo de pirataria na programação de TV por assinatura que oferece via satélite (DTH).
Um decodificador da marca AZ Box – vendido livremente na internet em lojas populares de produtos eletrônicos, com preços de R$ 600 a pouco mais de R$ 1.000 – capta o sinal do satélite e, conectado à web, é capaz de quebrar a criptografia da rede. O resultado é que a programação da Telefônica pode ser distribuída de graça para diversos domicílios.

Um inquérito que corre na Delegacia de Crimes Eletrônicos da Polícia Civil de São Paulo investiga o caso e tenta rastrear os distribuidores do produto, que geralmente é trazido do Paraguai.

O diretor de clientes residenciais da Telefônica, Fabio Bruggioni, afirmou que é impossível calcular o prejuízo. Segundo ele, a operadora está tomando providências para coibir o problema. A operadora apresentou queixa à polícia junto com a Nagravision – companhia responsável pelos equipamentos e softwares de segurança que integram os receptores de DTH usados pelos assinantes da Telefônica. “Estamos colaborando com as investigações para rastrear os revendedores do AZ Box. Vamos à Justiça”, disse Bruggioni, que participou ontem de um congresso sobre TV por assinatura.

Na parte técnica, a operadora passou a fazer uma atualização semanal na codificação dos chips que integram os receptores utilizados em sua rede. Em junho, a Telefônica também começou a adotar uma nova tecnologia, mais difícil de violar, para seus novos assinantes.

Porém, a companhia tem relutado em substituir os chips dos receptores de todos os seus assinantes de DTH – aproximadamente 300 mil. “A troca é, no limite, uma alternativa. Mas estamos buscando coisas mais eficientes”, afirmou Bruggioni. Segundo ele, a Telefônica vai tentar solucionar o problema remotamente. Com isso, a empresa tenta evitar o custo e o trabalho de enviar um técnico à residência de cada um de seus clientes.

A estratégia, no entanto, é criticada pelos concorrentes. “A Telefônica tem que trocar todos os ‘smartcards’ da sua base. Ao não fazer isso, dá uma sinalização negativa aos produtores de conteúdo e reduz a arrecadação do governo”, disse o presidente da Sky, Luiz Eduardo Baptista.

De acordo com o executivo, as vendas da Sky no Sul do país caíram 28% por causa da pirataria na rede da Telefônica. Embora o grupo espanhol concentre sua ação comercial no Estado de São Paulo, o sinal de DTH tem alcance nacional e por isso estaria sendo captado por telespectadores de outras regiões do país.

Baptista afirmou que, alguns anos atrás, a antiga DirecTV – que se fundiu à Sky – teve de trocar duas vezes os chips de segurança nos equipamentos de seus assinantes para coibir fraudes desse tipo.

O presidente da Net, José Félix, também fez críticas à rival. “Até que ponto a Telefônica tem interesse em combater a pirataria? Me parece que a atuação da Telefônica na TV por assinatura é muito mais de defesa que de ataque.” “Ainda não é um grande prejuízo, mas se continuar assim vai ser”, disse o presidente da Globosat, Alberto Pecegueiro, ao ser indagado sobre o impacto do AZ Box para a companhia, que distribui os canais da Globo, inclusive para a Telefônica. “O AZ Box é a maior ameaça atual ao modelo de TV por assinatura”, afirmou Antônio Salles, diretor do Sindicato das Empresas de TV por Assinatura (Seta).

A pirataria acompanha a indústria de TV paga no Brasil quase desde seu surgimento, há 20 anos. Em algumas regiões do país – especialmente em algumas favelas do Rio de Janeiro – tornou-se lugar-comum puxar fios que “roubam” o sinal das redes das operadoras de cabo, da mesma forma como são feitos os “gatos” de energia. Vem daí o apelido de “gatonet” que se popularizou no setor.

No entanto, ressaltou Salles, o “gatonet” está dando lugar a um tipo de fraude mais sofisticada, que ele chama de “gato convergente”. Segundo ele, os novos piratas são hackers que quebram os códigos e espalham o sinal de TV, como faz o AZ Box em diversas redes de DTH espalhadas pelo mundo. “Ainda não sabemos como combater o problema.” A Telefônica lançou sua operação de TV via satélite em 2007, mas também atua no mercado de TV paga por meio de uma participação na TVA. A estratégia do grupo é vender pacotes de serviços de vídeos, banda larga e telefonia fixa. Porém, desde o fim de junho, a Telefônica está proibida pela Anatel de vender novas conexões de internet, até que corrija falhas ocorridas em sua rede de dados.