Os conflitos das políticas de incentivos ao cinema brasileiro

Marcos Alberto Sant Anna Bitelli

Revista Exibidor São Paulo: Tonks

O modelo fomento à presença do cinema brasileiro das telas parte das premissas regulatórias fundadas em incentivos públicos à produção audiovisual e em cotas compulsórias nas telas dos cinemas e programadoras de TV por Assinatura.

O modelo fomento à presença do cinema brasileiro das telas parte das premissas regulatórias fundadas em incentivos públicos à produção audiovisual e em cotas compulsórias nas telas dos cinemas e programadoras de TV por Assinatura.

Dentro deste contexto, é triste constatar que o embate entre cinema autoral e cinema comercial surja novamente de forma tão veemente, com críticas injustificadas a quem produz, distribui e exibe filmes de sucesso de público.

Críticas absurdas são concentradas em produtores brasileiros que fazem conteúdos comerciais, às distribuidoras, notadamente ao papel contributivo relevante da Globo Filmes nestes projetos.

No Brasil parece que as economias de mercado são perniciosas. São diárias as investidas contra quem trabalha, põe dinheiro e capital (e o próprio pescoço) a risco, com o pedido de socorro à intervenção do Estado (muitas vezes atendido).

Resultado disso na economia macro-brasileira é o “pibinho” de 2013, fruto da insegurança do investimento privado nas atividades produtivas, notadamente pelo excesso de intervenção do Estado nos negócios, no modo como as empresas devem atuar, o que as tornam, de certa forma, vítimas dependentes do próprio Estado que muitas vezes os sufoca.

Há uma enorme confusão entre produção audiovisual comercial e produção audiovisual cultural (autoral, não totalizante, independente, de experimentação, laboratorial ou qualquer nome que se queira dar).

Ambos os “tipos” de produção de conteúdos merecem incentivos e proteção. E, uma modalidade não é melhor nem pior, mais ou menos importante.

O fato é que deveriam valer os aforismas: cada um no seu quadrado, uma coisa é uma coisa outra coisa é outra coisa. Mas o óbvio não acontece. Como escrevi certa vez, a ética na produção audiovisual está na adaptação da proposta e do orçamento dos filmes ao seu propósito e ao seu público. Como o dinheiro público ou incentivado disponível não é “carimbado” gera essa disputa – muitas vezes por capricho ou ciúmes – entre o “cult” e o “business”, porque ambos bebem da mesma fonte de recursos legais.

A lógica dos negócios do audiovisual é a mesma em qualquer parte do mundo. No final alguém tem que pagar a conta. Notadamente é o público, dono do dinheiro que tem o direito de decidir. Para isso, quando o público quer fazer a “compra do mês” vai a um hipermercado, quando procura uma iguaria, uma trufa branca ou uma especiaria rara, vai a uma mercearia especializada.

Assim, a lei ou regulação não pode culpar ou obrigar o hipermercado a reservar prateleiras para trufas brancas ou obrigar mercearias a venderem sabão em pó de cinco quilos. Ésimples assim. E nem se diga que a produção de sabão em pó brasileiro não deva ser fomentada tanto quanto as trufas brancas. Os dois merecem o mesmo incentivo, até porque um fabricante de sabão em pó se estiver bem sustentável economicamente, poderá às vezes produzir trufas brancas no seu sítio e presentear o público com iguarias produzidas por quem entende de produção industrial e, ao mesmo tempo, tem a tranquilidade material para produzir objetos raros cuja produção muitas vezes é prejudicada pela insegurança (instabilidade) financeira de quem produz. Por isso seria bom que as cornetas parassem de tocar e que os agentes do mercado do cinema pudessem atuar em conformidade com as propostas objetivas de seus projetos, pois há lugar para todos. Não é apenas criando telas que se resolve isso, pois o público não vai ao cinema somente porque ele está aberto, ele vai à busca do que está na tela. Que se criem mais mercearias onde o público possa experimentar alternativas à produção comercial, sem que haja preconceitos a essa necessária, útil e irrenunciável produção sucesso de bilheteria; sem que se obrigue salas comerciais a carregarem mais obrigações do que aquelas já impostas pelas dificuldades naturais de ser empresário no Brasil.